Job (episódio bíblico)
Todas as passagens da Bíblia sobre o episódio “Job”.
2 “Se tão somente pudessem pesar a minha aflição e pôr na balança a minha desgraça!
3 Veriam que o seu peso é maior que o da areia dos mares. Por isso as minhas palavras são tão impetuosas.
4 As flechas do Todo-poderoso estão cravadas em mim, e o meu espírito suga delas o veneno; os terrores de Deus me assediam.
5 Zurra o jumento selvagem se tiver capim? Muge o boi se tiver forragem?
6 Come-se sem sal uma comida insípida? E a clara do ovo, tem algum sabor?
7 Recuso-me a tocar nisso; esse tipo de comida causa-me repugnância.
8 “Se tão somente fosse atendido o meu pedido, se Deus me concedesse o meu desejo,
9 se Deus se dispusesse a esmagar-me, a soltar a mão protetora e eliminar-me!
10 Pois eu ainda teria o consolo, minha alegria em meio à dor implacável, de não ter negado as palavras do Santo.
11 “Que esperança posso ter, se já não tenho forças? Como posso ter paciência, se não tenho futuro?
14 “Um homem desesperado deve receber a compaixão de seus amigos, muito embora ele tenha abandonado o temor do Todo-poderoso.
15 Mas os meus irmãos enganaram-me como riachos temporários, como os riachos que transbordam
17 mas que param de fluir no tempo da seca e no calor desaparecem dos seus leitos.
18 As caravanas se desviam de suas rotas; sobem para lugares desertos e perecem.
19 Procuram água as caravanas de Temá, olham esperançosos os mercadores de Sabá.
20 Ficam tristes, porque estavam confiantes; lá chegaram tão somente para sofrer decepção.
21 Pois agora vocês de nada me valeram; contemplam minha temível situação e se enchem de medo.
22 Alguma vez pedi a vocês que me dessem alguma coisa? Ou que da sua riqueza pagassem resgate por mim?
23 Ou que me livrassem das mãos do inimigo? Ou que me libertassem das garras de quem me oprime?
24 “Ensinem-me, e eu me calarei; mostrem-me onde errei.
25 Como doem as palavras verdadeiras! Mas o que provam os argumentos de vocês?
26 Vocês pretendem corrigir o que digo e tratar como vento as palavras de um homem desesperado?
27 Vocês seriam capazes de pôr em sorteio o órfão e de vender um amigo por uma bagatela!
28 “Mas agora, tenham a bondade de olhar para mim. Será que eu mentiria na frente de vocês?
29 Reconsiderem a questão, não sejam injustos; tornem a analisá-la, pois a minha integridade está em jogo.
30 Há alguma iniquidade em meus lábios? Será que a minha boca não consegue discernir a maldade?
1 “Não é pesado o labor do homem na terra? Seus dias não são como os de um assalariado?
2 Como o escravo que anseia pelas sombras do entardecer, ou como o assalariado que espera ansioso pelo pagamento,
3 assim me deram meses de ilusão e noites de desgraça me foram destinadas.
4 Quando me deito, fico pensando: Quanto vai demorar para eu me levantar? A noite se arrasta, e eu fico me virando na cama até o amanhecer.
5 Meu corpo está coberto de vermes e cascas de ferida, minha pele está rachada e vertendo pus.
6 “Meus dias correm mais depressa que a lançadeira do tecelão, e chegam ao fim sem nenhuma esperança.
7 Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida não passa de um sopro; meus olhos jamais tornarão a ver a felicidade.
8 Os que agora me veem, nunca mais me verão; puseste o teu olhar em mim, e já não existo.
9 Assim como a nuvem se esvai e desaparece, assim quem desce à sepultura não volta.
11 “Por isso não me calo; na aflição do meu espírito desabafarei, na amargura da minha alma farei as minhas queixas.
12 Sou eu o mar, ou o monstro das profundezas, para que me ponhas sob guarda?
13 Quando penso que a minha cama me consolará e que o meu leito aliviará a minha queixa,
16 sinto desprezo pela minha vida! Não vou viver para sempre; deixa-me, pois os meus dias não têm sentido.
19 Nunca desviarás de mim o teu olhar? Nunca me deixarás a sós, nem por um instante?
20 Se pequei, que mal te causei, ó tu que vigias os homens? Por que me tornaste teu alvo? Acaso tornei-me um fardo para ti?
21 Por que não perdoas as minhas ofensas e não apagas os meus pecados? Pois logo me deitarei no pó; tu me procurarás, mas eu já não existirei”.
2 “Bem sei que isso é verdade. Mas como pode o mortal ser justo diante de Deus?
4 Sua sabedoria é profunda, seu poder é imenso. Quem tentou resistir-lhe e saiu ileso?
5 Ele transporta montanhas sem que elas o saibam e em sua ira as põe de cabeça para baixo.
10 Realiza maravilhas que não se pode perscrutar, milagres incontáveis.
11 Quando passa por mim, não posso vê-lo; se passa junto de mim, não o percebo.
12 Se ele apanha algo, quem pode pará-lo? Quem pode dizer-lhe: ‘O que fazes?’
13 Deus não refreia a sua ira; até o séquito de Raabe encolheu-se diante dos seus pés.
14 “Como então poderei eu discutir com ele? Como achar palavras para com ele argumentar?
15 Embora inocente, eu seria incapaz de responder-lhe; poderia apenas implorar misericórdia ao meu Juiz.
16 Mesmo que eu o chamasse e ele me respondesse, não creio que me daria ouvidos.
17 Ele me esmagaria com uma tempestade e sem motivo multiplicaria minhas feridas.
18 Não me permitiria recuperar o fôlego, mas me engolfaria em agruras.
20 Mesmo sendo eu inocente, minha boca me condenaria; se eu fosse íntegro, ela me declararia culpado.
22 É tudo a mesma coisa; por isso digo: Ele destrói tanto o íntegro como o ímpio.
23 Quando um flagelo causa morte repentina, ele zomba do desespero dos inocentes.
24 Quando um país cai nas mãos dos ímpios, ele venda os olhos de seus juízes. Se não é ele, quem é então?
25 “Meus dias correm mais velozes que um atleta; eles voam sem um vislumbre de alegria.
26 Passam como barcos de papiro, como águias que mergulham sobre as presas.
28 ainda assim me apavoro com todos os meus sofrimentos, pois sei que não me considerarás inocente.
30 Mesmo que eu me lavasse com sabão e limpasse as minhas mãos com soda de lavadeira,
31 tu me atirarias num poço de lodo, para que até as minhas roupas me detestassem.
34 alguém que afastasse de mim a vara de Deus, para que o seu terror não mais me assustasse!
1 “Minha vida só me dá desgosto; por isso darei vazão à minha queixa e de alma amargurada me expressarei.
2 Direi a Deus: Não me condenes; revela-me que acusações tens contra mim.
3 Tens prazer em oprimir-me, em rejeitar a obra de tuas mãos, enquanto sorris para o plano dos ímpios?
5 Teus dias são como os de qualquer mortal? Os anos de tua vida são como os do homem?
8 “Foram as tuas mãos que me formaram e me fizeram. Irás agora voltar-te e destruir-me?
9 Lembra-te de que me moldaste como o barro; e agora me farás voltar ao pó?
11 Não me vestiste de pele e carne e não me juntaste com ossos e tendões?
12 Deste-me vida e foste bondoso para comigo e na tua providência cuidaste do meu espírito.
14 Se eu pecasse, estarias me observando e não deixarias sem punição a minha ofensa.
15 Se eu fosse culpado, ai de mim! Mesmo sendo inocente, não posso erguer a cabeça, pois estou dominado pela vergonha e mergulhado na minha aflição.
16 Se mantenho a cabeça erguida, ficas à minha espreita como um leão e, de novo, manifestas contra mim o teu poder tremendo.
17 Trazes novas testemunhas contra mim e contra mim aumentas a tua ira; teus exércitos atacam-me em batalhões sucessivos.
18 “Então, por que me fizeste sair do ventre? Eu preferia ter morrido antes que alguém pudesse ver-me.
19 Se tão somente eu jamais tivesse existido, ou fosse levado direto do ventre para a sepultura!
20 Já estariam no fim os meus poucos dias? Afasta-te de mim, para que eu tenha um instante de alegria,
3 Mas eu tenho a mesma capacidade de pensar que vocês têm; não sou inferior a vocês. Quem não sabe dessas coisas?
4 “Tornei-me objeto de riso para os meus amigos, logo eu, que clamava a Deus e ele me respondia, eu, íntegro e irrepreensível, um mero objeto de riso!
6 As tendas dos saqueadores não sofrem perturbação, e aqueles que provocam a Deus estão seguros, aqueles que transportam o seu deus em suas mãos.
7 “Pergunte, porém, aos animais, e eles o ensinarão, ou às aves do céu, e elas contarão a você;
11 O ouvido não experimenta as palavras como a língua experimenta a comida?
13 “Deus é que tem sabedoria e poder; a ele pertencem o conselho e o entendimento.
14 O que ele derruba não se pode reconstruir; quem ele aprisiona ninguém pode libertar.
15 Se ele retém as águas, predomina a seca; se as solta, devastam a terra.
16 A ele pertencem a força e a sabedoria; tanto o enganado quanto o enganador a ele pertencem.
18 Tira as algemas postas pelos reis, e amarra uma faixa em torno da cintura deles.
4 Vocês, porém, me difamam com mentiras; todos vocês são médicos que de nada valem!
6 Escutem agora o meu argumento; prestem atenção à réplica de meus lábios.
9 Tudo iria bem se ele os examinasse? Vocês conseguiriam enganá-lo como podem enganar os homens?
12 As máximas que vocês citam são provérbios de cinza; suas defesas não passam de barro.
14 Por que me ponho em perigo e tomo a minha vida em minhas mãos?
15 Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele; certo é que defenderei os meus caminhos diante dele.
16 Aliás, será essa a minha libertação, pois nenhum ímpio ousaria apresentar-se a ele!
17 Escutem atentamente as minhas palavras; que os seus ouvidos acolham o que eu digo.
20 “Concede-me só estas duas coisas, ó Deus, e não me esconderei de ti:
21 Afasta de mim a tua mão e não mais me assustes com os teus terrores.
22 Chama-me, e eu responderei, ou deixa-me falar, e tu responderás.
26 Pois fazes constar contra mim coisas amargas e me fazes herdar os pecados da minha juventude.
1 “O homem nascido de mulher vive pouco tempo e passa por muitas dificuldades.
5 Os dias do homem estão determinados; tu decretaste o número de seus meses e estabeleceste limites que ele não pode ultrapassar.
6 Por isso desvia dele o teu olhar e deixa-o até que ele cumpra o seu tempo como o trabalhador contratado.
7 “Para a árvore pelo menos há esperança: se é cortada, torna a brotar, e os seus renovos vingam.
12 assim o homem se deita e não se levanta; até quando os céus já não existirem, os homens não acordarão e não serão despertados do seu sono.
13 “Se tão somente me escondesses na sepultura e me ocultasses até passar a tua ira! Se tão somente me impusesses um prazo e depois te lembrasses de mim!
14 Quando um homem morre, acaso tornará a viver? Durante todos os dias do meu árduo labor esperarei pela minha dispensa.
16 Por certo contarás então os meus passos, mas não tomarás conhecimento do meu pecado.
21 Se honram os seus filhos, ele não fica sabendo; se os humilham, ele não o vê.
4 Bem que eu poderia falar como vocês, se estivessem em meu lugar; eu poderia condená-los com belos discursos e menear a cabeça contra vocês.
5 Mas a minha boca procuraria encorajá-los; a consolação dos meus lábios daria alívio para vocês.
6 “Contudo, se falo, a minha dor não se alivia; se me calo, ela não desaparece.
7 Sem dúvida, ó Deus, tu me esgotaste as forças; deste fim a toda a minha família.
8 Tu me deixaste deprimido, o que é uma testemunha disso; a minha magreza se levanta e depõe contra mim.
9 Deus, em sua ira, ataca-me e faz-me em pedaços e range os dentes contra mim; meus inimigos fitam-me com olhar ferino.
11 Deus fez-me cair nas mãos dos ímpios e atirou-me nas garras dos maus.
16 Meu rosto está rubro de tanto eu chorar, e sombras densas circundam os meus olhos,
17 apesar de não haver violência em minhas mãos e de ser pura a minha oração.
19 Saibam que agora mesmo a minha testemunha está nos céus; nas alturas está o meu advogado.
20 O meu intercessor é meu amigo, quando diante de Deus correm lágrimas dos meus olhos;
1 “Meu espírito está quebrantado, os meus dias se encurtam, a sepultura me espera.
2 A verdade é que zombadores me rodeiam, e tenho que ficar olhando a sua hostilidade.
3 “Dá-me, ó Deus, a garantia que exiges. Quem, senão tu, me dará segurança?
4 Fechaste as mentes deles para o entendimento e com isso não os deixarás triunfar.
5 Se alguém denunciar os seus amigos por recompensa, os olhos dos filhos dele fraquejarão,
9 Mas os justos se manterão firmes em seus caminhos, e os homens de mãos puras se tornarão cada vez mais fortes.
10 “Venham, porém, vocês todos, e façam nova tentativa! Não acharei nenhum sábio entre vocês.
11 Foram-se os meus dias, os meus planos fracassaram, como também os desejos do meu coração.
13 Ora, se o único lar pelo qual espero é a sepultura, se estendo a minha cama nas trevas,
14 se digo à corrupção mortal: Você é o meu pai, e se aos vermes digo: Vocês são minha mãe e minha irmã,
2 “Até quando vocês continuarão a atormentar-me e a esmagar-me com palavras?
6 saibam que foi Deus que me tratou mal e me envolveu em sua rede.
10 Ele me arrasa por todos os lados enquanto eu não me vou; desarraiga a minha esperança como se arranca uma planta.
15 Os meus hóspedes e as minhas servas consideram-me estrangeiro; veem-me como um estranho.
16 Chamo o meu servo, mas ele não me responde, ainda que eu lhe implore pessoalmente.
17 Minha mulher acha repugnante o meu hálito; meus próprios irmãos têm nojo de mim.
19 Todos os meus amigos chegados me detestam; aqueles a quem amo voltaram-se contra mim.
21 “Misericórdia, meus amigos! Misericórdia! Pois a mão de Deus me feriu.
22 Por que vocês me perseguem como Deus o faz? Nunca irão saciar-se da minha carne?
27 Eu o verei com os meus próprios olhos; eu mesmo, e não outro! Como anseia no meu peito o coração!
29 melhor será que temam a espada, porquanto por meio dela a ira trará castigo para vocês, e então vocês saberão que há julgamento”.
2 “Escutem com atenção as minhas palavras; seja esse o consolo que vocês haverão de dar-me.
8 Eles veem os seus filhos estabelecidos ao seu redor e os seus descendentes diante dos seus olhos.
10 Seus touros nunca deixam de procriar; suas vacas dão crias e não abortam.
12 Cantam, acompanhando a música do tamborim e da harpa; alegram-se ao som da flauta.
15 Quem é o Todo-poderoso, para que o sirvamos? Que vantagem temos em orar a Deus?’
16 Mas não depende deles a prosperidade que desfrutam; por isso fico longe do conselho dos ímpios.
17 “Pois, quantas vezes a lâmpada dos ímpios se apaga? Quantas vezes a desgraça cai sobre eles, o destino que em sua ira Deus lhes dá?
19 Dizem que Deus reserva o castigo de um homem para os seus filhos. Que o próprio pai o receba, para que aprenda a lição!
21 Pois, que lhe importará a família que deixará atrás de si quando chegarem ao fim os meses que lhe foram destinados?
22 “Haverá alguém que o ensine a conhecer a Deus, uma vez que ele julga até os de mais alta posição?
28 ‘Onde está agora a casa do grande homem?’, vocês perguntam. ‘Onde a tenda dos ímpios?’
30 Pois eles dizem que o mau é poupado da calamidade e que do dia da ira recebe livramento.
31 Quem o acusa, lançando em rosto a sua conduta? Quem lhe retribui o mal que fez?
34 “Por isso, como podem vocês consolar-me com esses absurdos? O que sobra das suas respostas é pura falsidade!”
4 Eu lhe apresentaria a minha causa e encheria a minha boca de argumentos.
6 Será que ele se oporia a mim com grande poder? Não, ele não me faria acusações.
7 O homem íntegro poderia apresentar-lhe sua causa; eu seria liberto para sempre de quem me julga.
8 “Mas, se vou para o oriente, lá ele não está; se vou para o ocidente, não o encontro.
9 Quando ele está em ação no norte, não o enxergo; quando vai para o sul, nem sombra dele eu vejo!
10 Mas ele conhece o caminho por onde ando; se me puser à prova, aparecerei como o ouro.
11 Meus pés seguiram de perto as suas pegadas; mantive-me no seu caminho sem desviar-me.
12 Não me afastei dos mandamentos dos seus lábios; dei mais valor às palavras de sua boca do que ao meu pão de cada dia.
13 “Mas ele é ele! Quem poderá fazer-lhe oposição? Ele faz o que quer.
17 Contudo, não fui silenciado pelas trevas, pelas densas trevas que cobrem o meu rosto.
1 “Por que o Todo-poderoso não marca as datas de julgamento? Por que aqueles que o conhecem não chegam a vê-las?
3 Levam o jumento que pertence ao órfão e tomam o boi da viúva como penhor.
5 Como jumentos selvagens no deserto, os pobres vão em busca de comida; da terra deserta a obtêm para os seus filhos.
7 Pela falta de roupas, passam a noite nus; não têm com que cobrir-se no frio.
8 Encharcados pelas chuvas das montanhas, abraçam-se às rochas por falta de abrigo.
9 A criança órfã é arrancada do seio de sua mãe; o recém-nascido do pobre é tomado para pagar uma dívida.
10 Por falta de roupas, andam nus; carregam os feixes, mas continuam famintos.
11 Espremem azeitonas dentro dos seus muros; pisam uvas nos lagares, mas assim mesmo sofrem sede.
12 Sobem da cidade os gemidos dos que estão para morrer, e as almas dos feridos clamam por socorro. Mas Deus não vê mal nisso.
15 Os olhos do adúltero ficam à espera do crepúsculo; ‘Nenhum olho me verá’, pensa ele; e mantém oculto o rosto.
18 “São, porém, como espuma sobre as águas; sua parte da terra foi amaldiçoada, e por isso ninguém vai às vinhas.
20 Sua mãe os esquece, os vermes se banqueteiam neles. Ninguém se lembra dos maus; quebram-se como árvores.
22 Mas Deus, por seu poder, os arranca; embora firmemente estabelecidos, a vida deles não tem segurança.
23 Ele poderá deixá-los descansar, sentindo-se seguros, mas atento os vigia nos caminhos que seguem.
24 Por um breve instante são exaltados e depois se vão, colhidos como todos os demais, ceifados como espigas de cereal.
25 “Se não é assim, quem poderá provar que minto e reduzir a nada as minhas palavras?”
11 As colunas dos céus estremecem e ficam perplexas diante da sua repreensão.
12 Com seu poder agitou violentamente o mar; com sua sabedoria despedaçou o Monstro dos Mares.
13 Com seu sopro os céus ficaram límpidos; sua mão feriu a serpente arisca.
14 E isso tudo é apenas a borda de suas obras! Um suave sussurro é o que ouvimos dele. Mas quem poderá compreender o trovão do seu poder?”
6 Manterei minha retidão e nunca a deixarei; enquanto eu viver, a minha consciência não me repreenderá.
11 “Eu os instruirei sobre o poder de Deus; não esconderei de vocês os caminhos do Todo-poderoso.
12 Pois a verdade é que todos vocês já viram isso. Então por que essa conversa sem sentido?
14 Por mais filhos que o ímpio tenha, o destino deles é a espada; sua prole jamais terá comida suficiente.
15 A epidemia sepultará aqueles que lhe sobreviverem, e as suas viúvas não chorarão por eles.
16 Ainda que ele acumule prata como pó e amontoe roupas como barro,
18 A casa que ele constrói é como casulo de traça, como cabana feita pela sentinela.
20 Pavores vêm sobre ele como uma enchente; de noite a tempestade o leva de roldão.
21 O vento oriental o leva, e ele desaparece; arranca-o do seu lugar.
22 Atira-se contra ele sem piedade, enquanto ele foge às pressas do seu poder.
3 O homem dá fim à escuridão e vasculha os recônditos mais remotos em busca de minério, nas mais escuras trevas.
4 Longe das moradias ele cava um poço, em local esquecido pelos pés dos homens; longe de todos, ele se pendura e balança.
9 As mãos dos homens atacam a dura rocha e transtornam as raízes das montanhas.
11 Eles vasculham as nascentes dos rios e trazem à luz coisas ocultas.
12 “Onde, porém, se poderá achar a sabedoria? Onde habita o entendimento?
13 O homem não percebe o valor da sabedoria; ela não se encontra na terra dos viventes.
15 Não pode ser comprada, mesmo com o ouro mais puro, nem se pode pesar o seu preço em prata.
18 O coral e o jaspe nem merecem menção; o preço da sabedoria ultrapassa o dos rubis.
19 O topázio da Etiópia não se compara com ela; não se compra a sabedoria nem com ouro puro!
25 Quando ele determinou a força do vento e estabeleceu a medida exata para as águas,
2 “Como tenho saudade dos meses que se passaram, dos dias em que Deus cuidava de mim,
3 quando a sua lâmpada brilhava sobre a minha cabeça e por sua luz eu caminhava em meio às trevas!
4 Como tenho saudade dos dias do meu vigor, quando a amizade de Deus abençoava a minha casa,
6 quando as minhas veredas se embebiam em nata e a rocha me despejava torrentes de azeite.
8 quando, ao me verem, os jovens saíam do caminho, e os idosos ficavam em pé;
10 As vozes dos nobres silenciavam, e suas línguas colavam-se ao céu da boca.
11 Todos os que me ouviam falavam bem de mim, e quem me via me elogiava,
12 pois eu socorria o pobre que clamava por ajuda e o órfão que não tinha quem o ajudasse.
13 O que estava à beira da morte me abençoava, e eu fazia regozijar-se o coração da viúva.
14 A retidão era a minha roupa; a justiça era o meu manto e o meu turbante.
16 Eu era o pai dos necessitados e me interessava pela defesa de desconhecidos.
18 “Eu pensava: Morrerei em casa, e os meus dias serão numerosos como os grãos de areia.
19 Minhas raízes chegarão até as águas, e o orvalho passará a noite nos meus ramos.
21 “Os homens me escutavam em ansiosa expectativa, aguardando em silêncio o meu conselho.
22 Depois que eu falava, eles nada diziam; minhas palavras caíam suavemente em seus ouvidos.
23 Esperavam por mim como quem espera por uma chuvarada e bebiam minhas palavras como quem bebe a chuva da primavera.
25 Era eu que escolhia o caminho para eles e me assentava como seu líder; instalava-me como um rei no meio das suas tropas; eu era como um consolador dos que choram.
1 “Mas agora eles zombam de mim, homens mais jovens que eu, homens cujos pais eu teria rejeitado, não lhes permitindo sequer estar com os cães de guarda do rebanho.
2 De que me serviria a força de suas mãos, já que desapareceu o seu vigor?
3 Desfigurados de tanta necessidade e fome, perambulavam pela terra ressequida, em sombrios e devastados desertos.
9 “E agora os filhos deles zombam de mim com suas canções; tornei-me um provérbio entre eles.
10 Eles me detestam e se mantêm a distância; não hesitam em cuspir em meu rosto.
11 Agora que Deus afrouxou a corda do meu arco e me afligiu, eles ficam sem freios na minha presença.
12 À direita os embrutecidos me atacam; preparam armadilhas para os meus pés e constroem rampas de cerco contra mim.
13 Destroem o meu caminho; conseguem destruir-me sem a ajuda de ninguém.
15 Pavores apoderam-se de mim; a minha dignidade é levada como pelo vento, a minha segurança se desfaz como nuvem.
18 Em seu grande poder, Deus é como a minha roupa; ele me envolve como a gola da minha veste.
20 “Clamo a ti, ó Deus, mas não me respondes; fico em pé, mas apenas olhas para mim.
22 Tu me apanhas e me levas contra o vento e me jogas de um lado a outro na tempestade.
24 “A verdade é que ninguém dá a mão ao homem arruinado, quando este, em sua aflição, grita por socorro.
25 Não é certo que chorei por causa dos que passavam dificuldade? E que a minha alma se entristeceu por causa dos pobres?
27 Nunca para a agitação dentro de mim; dias de sofrimento me confrontam.
28 Perambulo escurecido, mas não pelo sol; levanto-me na assembleia e clamo por ajuda.
31 Minha harpa está afinada para cantos fúnebres, e minha flauta para o som de pranto.
2 Pois qual é a porção que o homem recebe de Deus lá de cima? Qual a sua herança do Todo-poderoso, que habita nas alturas?
4 Não vê ele os meus caminhos e não considera cada um de meus passos?
5 “Se me conduzi com falsidade, ou se meus pés se apressaram a enganar,
7 se meus passos desviaram-se do caminho, se o meu coração foi conduzido por meus olhos, ou se minhas mãos foram contaminadas,
8 que outros comam o que semeei e que as minhas plantações sejam arrancadas pelas raízes.
9 “Se o meu coração foi seduzido por mulher, ou se fiquei à espreita junto à porta do meu próximo,
14 que farei quando Deus me confrontar? Que responderei quando chamado a prestar contas?
15 Aquele que me fez no ventre materno não os fez também? Não foi ele que nos formou, a mim e a eles, no interior de nossas mães?
18 sendo que desde a minha juventude o criei como se fosse seu pai, e desde o nascimento guiei a viúva;
20 e o seu coração não me abençoou porque o aqueci com a lã de minhas ovelhas,
23 Pois eu tinha medo que Deus me destruísse, e, temendo o seu esplendor, não podia fazer tais coisas.
25 se me regozijei por ter grande riqueza, pela fortuna que as minhas mãos obtiveram,
28 esses também seriam pecados merecedores de condenação, pois eu teria sido infiel a Deus, que está nas alturas.
29 “Se a desgraça do meu inimigo me alegrou, ou se os problemas que teve me deram prazer;
32 sendo que nenhum estrangeiro teve que passar a noite na rua, pois a minha porta sempre esteve aberta para o viajante;
33 se escondi o meu pecado, como outros fazem, acobertando no coração a minha culpa,
34 com tanto medo da multidão e do desprezo dos familiares que me calei e não saí de casa…
35 (“Ah, se alguém me ouvisse! Agora assino a minha defesa. Que o Todo-poderoso me responda; que o meu acusador faça a denúncia por escrito.
37 Eu lhe falaria sobre todos os meus passos; como um príncipe eu me aproximaria dele.)
39 se consumi os seus produtos sem nada pagar, ou se causei desânimo aos seus ocupantes,
40 que me venham espinhos em lugar de trigo e ervas daninhas em lugar de cevada”. Aqui terminam as palavras de Jó.
2 “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
3 Tu perguntaste: ‘Quem é esse que obscurece o meu conselho sem conhecimento?’ Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber.